segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Churrasco
Nem era cedo ainda e o dia quase estava claro. De fogo. Luz acendida no meio do mato cortado e seco, estralava. No meio de mim o coração salteava, escapava. Deixei a janela aberta e fiquei olhando o vermelho subindo para o céu, espalhando para os lados, tomando a imensidão. João dormia ao meu lado, roncava estrebuchando a boca e a barriga. Que raiva de João. Antes tivesse partido sem ele naquele dia, mas que jeito? A culpa comeu meu estômago, mirou um safanão bem no meio da sua cara lambida e acordou o bobão. Foi só sentir a fumaça vizinha para sair gritando feito mulher histérica. Hoje a culpa não me atrapalharia. Se instinto nenhum o protegia, que se visse lá com quem de direito. Eu não sou anjo protetor, não guardo nada nem ninguém. Estava cada vez mais claro e quente. O suor escorria pelo pescoço de João, pela testa, acomodava-se no beiço. Vou embora. Não quero virar churrasco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário