segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A História do Nosso Livro


A HISTÓRIA DO NOSSO LIVRO

História de um livro - A MEDIDA DE TODAS AS COISAS
Sempre gostei de saber da história de um livro, das circunstâncias em que ele foi escrito. O que se publica é o que todo mundo vê, saber dos bastidores é como ficar sabendo de um segredo, de uma intimidade. É como poder ver o útero onde os livros são gestados.
Todo mundo me pergunta como foi, para a gente, a experiência de escrever uma coletânea? Qual foi o caminho que percorremos do momento em que o livro não passava de uma ideia até a mesa do editor? Uma coletânea sempre tem muitas histórias. E são muitas as etapas: reunir as pessoas, escolher o tema, selecionar e trabalhar os textos, definir o título, escolher as epígrafes. É muito bom relembrar a história desse livro que escrevi junto com mais 14 amigos, escritores que eu gosto e admiro.
Embora entre nós já tivesse escritor premiado com Jabuti, a gente se conheceuna oficina de escrita do nosso querido Marcelino Freire, no Centro Cultural B-Arco, no primeiro semestre de 2010. Foi aí que a gente se apaixonou um pelo outro e pela ideia de trabalhar nossos textos considerando as impressões dos colegas. Por isso dedicamos o livro ao Marcelino.
A ideia surgiu com a emoção que dois textos que estão nesta antologia imprimiram na gente. “Copo de leite”, de Angela, e “Neblina”, de Lidia, fizeram o povo ir `as lágrimas. E além de emocionante, o tema é complexo e multifacetado. Estava decidido. Aí Danita vaticinou: vamos escrever um livro sobre pais!
Era abril de 2010. Mas o tempo passou e o grupo estava se dispersando. Paralela `a ideia do livro surgia a necessidade de ter uma sede, uma espécie de Clube da Esquina de escritores. Isso também se concretizou, e hoje nós somos o Grupo B-Eco, estabelecido na Rua Fidalga, 986. Mas voltando lá atrás, numa reunião embrionária, em novembro de 2010, na minha casa, Adriana, Angela e Danita deliberaram e me indicaram para organizadora do livro. Entrei em contato com os outros autores e todos ficaram imediatamente interessados em participar. Pedi que me enviassem os textos e os trabalhos seguiram rápido, muitasleituras e releituras em grupo. Não queríamos só histórias de pais bons, tinha história de homem que abusa sexualmente, que agride, que abandona. E como a vida é mais complexa que o bem e o mal maniqueistas, quisemos mostrar também as nuances e ainda explorar histórias que parecessem fábulas repaginadas, como nos textos que contam a relação de um pai desenhista com sua filha personagem de mangá ou do Super-homem com seu filho adolescente.
Mas e o título? Foi na leitura de Carta ao Pai, de Franz Kafka onde encontramos o título que resumia a ideia alinhavando os textos: o pai é o primeiro parâmetro que o filho usa para se avaliar e avaliar o mundo. A frase original é de Protágoras de Abdera, filósofo grego que, já no século V antes de Cristo, dizia: “O homem é a medida de todas as coisas”.
Tínhamos até aí trabalhado os textos e encontrado o título e uma epígrafe, com toda a seriedade e profundidade que o tema pede. Mas alguns dos nossos textos tinham um apelo mais leve, procurando a reflexão através do riso, então fomos buscar o outro lado da balança. Gargântua e Pantagruel, a série de livros do Rabelais, é um clássico renascentista e ao mesmo tempo um texto que consegue mover o leitor de sua zona de conforto. Caminhando no limite através de uma fabulação delirante, o autor busca o riso como forma de reflexão sobre os costumes. Nesse outro lado da moeda, encontramos a segunda epígrafe do livro. Era isso que queríamos: trazer a lume o conceito aristotélico de que o riso também é um caminho para a verdade.
A MEDIDA DE TODAS AS COISAS é fruto de uma união fértil, entre amigos queridos. Sem dúvida a história deste livro, escrita a 15 mãos, foi uma história maravilhosa, que adoramos escrever.

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